Em reunião
durante a madrugada na qual ficou acertado que peemedebista deixaria a
presidência da Câmara, ele disse a aliados: 'Estão preparados?'
Antes de anunciar, na tarde desta quinta-feira, em
pronunciamento na Câmara dos Deputados, sua renúncia ao comando da Casa, o
deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) viveu uma madrugada de intensa
articulação política com vistas a não perder completamente a relevância na cena
política - e, de quebra, atrasar um pouco mais a definição sobre sua cassação.
O peemedebista se reuniu com os principais líderes do chamado centrão, grupo
formado por doze partidos e que aglutina mais de 200 deputados, e, ao lado
deles, definiu como seriam seus próximos passos.
Conforme relatos de parlamentares estiveram
presentes à residência oficial da Câmara na noite de ontem os deputados Marcelo
Aro (PHS-MG), Jovair Arantes (PTB-GO), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Baleia Rossi
(PMDB-SP) e Aelton Freitas (PR-MG). Tido como principal nome para suceder a
Cunha, Rogério Rosso (PSD-DF) também participou da conversa, segundo deputados.
Ele nega.
Conhecido pelo autoritarismo, Cunha perguntou
individualmente a cada aliado sua opinião sobre a renúncia. Prevaleceu a
avaliação de que é preciso sacar da presidência o interino Waldir Maranhão
(PP-MA), tido como alguém que não inspira confiança. O temor em relação a
Maranhão cresceu após ele se reunir com o ex-presidente Lula na última semana
para discutir o futuro da Câmara dos Deputados. A vacância de Maranhão seria
possível em caso de renúncia ou da cassação de Cunha, o que fez todos apoiarem
a retirada do peemedebista.
Depois de colher a opinião dos seus aliados e
avaliar como o seu grupo político poderia sair beneficiado ou prejudicado,
Cunha, já de madrugada, bradou: "Então todo mundo concorda com a minha
renúncia? Estão todos preparados?", lendo, em seguida, a carta
apresentada, em meio a lágrimas, nesta quinta-feira. A proposta inicial seria
programar um ato já pela manhã, mas, como Cunha está impedido, por ordem
judicial, de frequentar a Câmara, ele teve de aguardar a abertura do protocolo
do Supremo Tribunal Federal para informar que compareceria à Casa.
Cunha trabalha para eleger como sucessor um membro
do centrão, grupo cuja formação ele mesmo patrocinou e sobre o qual mantém
influência até hoje. De perfil conciliador e com bom trânsito entre os
deputados de vários partidos, o líder do PSD, Rogério Rosso, é tido como o
favorito para o posto. O deputado Jovair Arantes também vinha sendo cotado. Os dois
negam almejar o cargo agora, visto que cumpririam apenas um mandato-tampão até
fevereiro do próximo ano, quando será realizada nova eleição. Sem consenso,
outros integrantes do centrão estão de olho na cadeira presidencial, o que pode
provocar um racha na principal base de apoio de Michel Temer na Câmara. São
apontados como possíveis candidatos os deputados Giacobo (PR-PR), Beto Mansur
(PRB-SP), Manato (SD-ES) e Espiridião Amin (PP-SC).
Ala do PMDB também reivindica a cadeira deixada por
Cunha por entender que ela é da cota do partido. O deputado Osmar Serraglio
(PMDB-SC) é um dos cotados ao posto. Partidos da antiga oposição - DEM, PSDB e
PPS - e que agora também dão sustentação ao governo podem entrar no páreo. O
deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) já demonstrou interesse no cargo. Pelo PSB, é
esperado que o adversário de Cunha nas últimas eleições, Júlio Delgado (MG),
também entre na disputa, ao lado de Heráclito Fortes (PI) e Hugo Leal (RJ). Já
o PT não deve indicar nomes para a disputa, mas não apoiará qualquer um ligado
a Cunha e cogita até votar em um candidato da base do governo Temer, como
Rodrigo Maia.
Cassação - Ao atender ao pleito dos aliados, Cunha dá a última
cartada pela sobrevivência: ele tenta, a todo custo, reverter a aprovação de
seu pedido de cassação pelo Conselho de Ética. Na próxima semana serão votados
os recursos ingressados contra a ação por quebra de decoro na Comissão de
Constituição e Justiça (CCJ) - mas a realização da eleição já no começo da
semana inviabilizaria a reunião do colegiado, dando sobrevida a Cunha. Não à
toa, os aliados do peemedebista trabalham para antecipar o pleito, agendado por
Maranhão para o dia 14. O prazo abre brecha para que a CCJ vote os recursos na
próxima segunda e o plenário decida sobre a cassação na quinta.
Réu na Lava Jato e citado por delatores como um dos
grandes beneficiários do esquema de corrupção na Petrobras, Cunha fica sem o
foro privilegiado se perder o mandato, o que joga o seu caso para o juiz
federal Sergio Moro.
O esforço, agora, é para amealhar
"solidariedade" entre os congressistas e escapar da cassação. "A
Casa tem de entender o gesto dele como positivo e de respeito. Então, se tiver
reciprocidade, é importante para ele ficar no mandato enquanto rolam as coisas
na Justiça", afirmou o aliado Jovair Arantes. "Quem, no Brasil, que
foi prefeito, vereador, deputado ou senador e não tem qualquer tipo de coisa
imposta pelo Ministério Público ou colocada pelos tribunais? Ele está
respondendo", continuou Arantes. Outro aliado, porém, foi um pouco mais
realista: "A gente não acha que isso [a renúncia] é o suficiente para
salvar o mandato dele. Mas piorar não vai. Ele infelizmente chegou a uma
situação em que existe uma perseguição e pressão política muito grande e não
tinha outro caminho", disse.
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